segunda-feira, 24 de maio de 2010

Boas empresas, indicadores nem tanto


Quando inicia-se um investimento em empresas de capital aberto empregando value investing (investimento em valor), há diversas variáveis ou indicadores que são utilizados para esta tomada de decisão. Indicadores como P/L (Preço/Lucro), P/VP (Preço/Valor Patrimonial), DY (Dividend Yield), ROE (Return on Equity), Margens, PSR (Price Sales Ratio), entre outros, raramente são deixados de lado. Portanto, toma-se a decisão em um conjunto de fatores que somados chegam a satisfazer o investidor. Sendo assim, apenas um ou dois indicadores conjuntamente, seja pelo lado bom ou ruim, tem um relevancia menor na soma dos fatores. Há diversas empresas que considero interessante do ponto de vista da marca, estrutura, nicho de mercado, entre outros. Porém apesar de possuírem os requisitos mencionados anteriormente, não chegam a me agradar em relação a diversos indicadores de mercado, o que me faz desconsiderá-las de ter seus ativos em meu portfólio, pelo menos neste momento.

Ambev - A empresa já apresenta seus relatórios trimestrais no padrão IFRS, o que facilita muito para o investidor identificar os segmentos que produzem mais receita e/ou despesa à empresa. Considerei o resultado do 1T10 satisfatório, principalmente quando exclui-se a perda não recorrente de R$46 mi devido ao fechamento de uma fábrica no Canadá. O resultado financeiro líquido novamente deixou a desejar, apesar da melhora se compararmos com o mesmo período do ano anterior, devido ao contínuo resultado negativo referentes às perdas com derivativos e instrumentos não derivativos. Como é possível verificar na tabela acima, o ROE da empresa possui um número considerável, ainda mais pelo fato da empresa conseguir mantê-lo acima dos 24% ao ano. O pay out da empresa e as margens bruta e EBIT também são mantidas em níveis satisfatórios, assim como o lucro líquido da empresa que mantém uma subida ano a ano. Porém, considerando os indicadores atuais como P/L em torno de 20; P/VP e PSR acima dos 4,5; DY dos últimos 3 anos e atual em torno de 4,0 e Giro de Ativos beirando 0,5 são os indicadores que me fazem manter com a política de não investir na empresa, pelo menos momentaneamente.
CCR Rodovias - Outra empresa que possui nicho de mercado não considerado cíclico, o que torna a empresa mais atraente. Possui uma diversificação no portfólio de produtos que aumentou no histórico recente da empresa. Projetar o lucro trimestre a trimestre da empresa se torna uma tarefa um tanto quanto ingrata, visto as enormes variações do resultado financeiro devido ao grande portfólio de produtos utilizados com operações cambiais e Hedge, dívidas em moedas e taxas de juros internacionais e nacionais. No histórico da empresa vemos as margens se manterem constantes, pay out mínino de 50% definido pela empresa, e uma dívida aumentando devido aos investimentos recentes. Atualmente, um P/L próximo a 25; P/VP em torno de 5,3; P/EBIT igual a 10; histórico de DY abaixo de 5,0; PSR próximo de 5,0 e Giro de Ativos em 0,3 fazem com que os indicadores se tornem um mal investimento no momento.
Hypermarcas - A empresa está se destacando no cenário atual devido as diversas empresas que vem adquirindo recentemente. Sendo agressiva, a perspectiva de lucros aumenta para o investidor. A questão no momento é: a Hypermarcas está pagando barato, o valor justo ou caro por essas empresas que vem adquirindo? A resposta, infelizmente, não pode ser reconhecida por um investidor comum. Um outro aspecto que chama a atenção momentaneamente é o vencimento da dívida bruta da companhia até o fim de 2010: quase 35% do total da dívida. Como histórico recente, a empresa se fortalece para ser praticamente detentora de um portfólio imenso de produtos. Atualmente com um P/L próximo a 40; P/VP em 3,5; sem histórico de distribuição de dividendos devido a política agressiva da companhia em investimentos; baixa Margem EBIT, Giro de Ativos em torno de 0,3; fazem com que o investidor focado em fundamentos aguarde mais para investir na empresa.
Portanto, apesar de serem empresas fortemente reconhecidas no cenário atual, os investidores em valor não as reconhecem dessa forma como um investimento interessante, pelo menos no momento.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Wall Street 2 - The Money Never Sleeps

A partir do fim de Setembro deste ano, os amantes do mercado acionário terão a oportunidade de acompanhar o filme Wall Street 2 - The Money Never Sleeps. O filme será dirigido por Oliver Stone e terá novamente Michael Douglas (Gordon Gekko) no papel principal. Porém, desta vez, Gekko terá a companhia de Shia LaBeouf (Jacob "Jake" Moore) no papel do jovem que trabalha em uma corretora dos EUA e que tenta a aproximação do milionário recém saído da cadeia para alcançar seus objetivos.

No primeiro filme da série, em 1987, Michael Douglas ganhou o Oscar de melhor ator. O papel de Charlie Sheen (Bud Fox) também rendeu boas críticas. No filme, o jovem Bud Fox viu-se atraído pelo poder do milionário para tentar alcançar seus objetivos. No fim, paga um preço alto por um caso de espionagem e acaba preso. Posteriormente, é "obrigado" a entregar seu mentor por crimes financeiros.

Segue acima o trailer do filme que será lançado em Setembro. Portanto, agora é aguardar até lá e conferir o que esse novo filme irá nos proporcionar.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

The Curious Capitalist

O antes país do carnaval e do futebol parece cada vez mais ter se tornado porto seguro para os investidores estrangeiros. Na revista americana Time dessa semana, há um artigo interessante que expõe o sentimento atual dos mesmos.
O texto escrito abaixo é de Zachary Karabell.

Risk Inverse. Greece shows that investors looked for trouble in the wrong places. Why the developing world is now the better bet

The unfolding drama of the Greek economy has roiled markets and awakened fears of global economic calamity that had been dormant for more than a year. The $1 trillion rescue package assembled by the European Union and the International Monetary fund may be enough to keep the Greek disease from infecting Spain, Portugal, Ireland and other overleveraged European countries. But the events of the past weeks echo the lessons of the near global meltdown of late 2008 and the early 2009: the world is indeed a risky place, although not in the places most people think of as risky. The global economy is indeed riddled with problems, but not in the places most people think of as problems.

For most of the past 40 to 50 years, the world has been divided in various ways: communist and capitalist, democratic and authoritarian. West and East, First world and Third World, and developed economies and emerging economies. When it came to business and investing, the First World - the Western world and the developed world - was seen as secure, stable and capital-rich, while the Third World and the emerging economies were seen as unstable, capital-poor and highly risk. Think of the much heralded and much needed bailout of the Mexican peso in 1994, the contagion of the currency devaluations that started in Asia in 1997 or the periodic hyperinflation that has plagued Argentina.

The crises of the past two years, however, stemmed not from the risky parts of the world but from the supposedly safe havens of the U.S. and the euro zone. Risk is no longer over there; it's here. It isn't in exotic parts of the world; it's in the cradle of Western civilization. In the fall of 2008, it wasn't oil shocks in the Middle East that triggered the meltdown; it was subdivisions in Phoenix and financial wizardry on Wall Street. In the 1970s, sovereign-debt defaults in Latin America hit Citibank hard; in the past two years, the near default of Citi rocked Latin America.

Investors haven't adjusted to this new reality, though. Rates on emerging-markets bonds - a good proxy for how much risk investors perceive there to be - from countries like Brazil are more or less on par with the rates charged on Greek and Spanish debt. And the latter two are dead broke. American pension plans, which have every incentive to reduce their risk, allocate on average only 2,1% of their portfolios to emerging-market debt, compared with double digits for U.S. and European debt.

Or take the continued misreading of China's economy. Before 2008, it was commonly assumed that the Chinese banking sector would bring that economy to a halt - either in a soft landing, as the loans were written off and the government recapitalized those banks, or in a hard landing, when the banking sector imploded. Turns out Chinese banks weren't the problem: American and European banks were. It wasn't China's nonperforming loans that should have caused anxiety; it was ours.

Today it is the Asian, Brazilian and Indian banks that are well capitalized and run conservatively. Yes, China's banks are chock-full of sketchy loans, but many those are government-backed, meant to finance an industrial build-out that is key to economic growth. They are less like bad loans and more like government expenditures, and unlike the social handouts of Greece and U.E., those expenditures are going into infrastructure and investment rather than just consumption. Look around the world and you'll see growth and capital discipline born of hard experience in those places still associated with risk; you will see capital profligacy and anemic growth in those parts of the world still seen as safe.

Granted, some of this is human nature. People everywhere suffer from home-country bias - the belief that one's own society is safer and more comprehensible than others. Investors tend to put more money in local stocks and bonds. But, for the first time, home-country bias makes sense if you are in Brazil or India or China or dozens of other regions. And it make much less sense if you are American or European. Although world stock markets are down this year more than U.S. and European ones, that is largely because big institutions in America and Europe have been selling non-U.S. assets to bolster their balance sheets and average investors have remained skittish about a risky world beyond their borders. In short, while the reality of risk has shifted dramatically, the perception of it hasn't.

The Great Recession, so great in the West, is the Great Emergence for the rest, and the risk has moved from far away to uncomfortably close. Our compass is broken, and our desire for safety is leading to ever greater risk. We need to understand that new reality, and quickly.

Karabell is the president of River Twice Research and a co-author of the forthcoming book Sustainable Excellence

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Relatórios de Gestão

Fim do mês de Abril e as dúvidas e perspectivas sobre o mercado de ações e renda fixa continuam, como sempre acontece e acontecerá. E, ao fim dos meses, muitos gestores de fundos divulgam relatórios apresentando os motivos da queda/alta de rentabilidade do respectivo fundo. Dentro de cada relatório, é possível notar as variáveis e a diversidade que cada gestor apresenta para as perspectivas futuras e os pensamentos semelhantes e antagônicos entre os mesmos sobre o período atual da economia mundial. Portanto, nesse post, colocarei algumas passagens interessantes de cada relatório que costumo ler cada mês. É evidente que aqui neste post teremos poucas opiniões, ainda mais se compararmos proporcionalmente com o tamanho da indústria de fundos, até porque não é possível acessar a maioria dos relatórios que são disponibilizados apenas para os respectivos cotistas de cada fundo.

Sparta Fundos - Sparta Cíclico FIM: "O anúncio de novos pacotes de ajuda financeira a Grécia não tem sido suficiente para acalmar os ânimos do mercado. De toda a forma, acreditamos que os impactos no Brasil serão pequenos, trazendo apenas alguma volatilidade aos mercados no curto prazo. As sucessivas medidas de aperto monetário na China, que tem por objetivo conter a especulação imobiliária no país, vêm sendo fonte de preocupação adicional para o Brasil, grande exportador de commodities. Por outro lado, a economia americana continua sua trajetória de recuperação não inflacionária. No Brasil, o BC iniciou um ciclo de aperto monetário para trazer a inflação novamente para níveis de conforto, conforme já era esperado pelo mercado."

Geração Futuro - Geração Programado FIA: "o principal indicador do desempenho do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, mantém-se praticamente estável, sem valorização, desde meados de Outubro de 2009 - naquele momento, o Ibovespa acumulava alta de quase 80% em 2009. Esta situação, em que o índice de mercado permanece há quase 200 dias sem valorização, sinaliza uma atrativa oportunidade de investimento, principalmente se considerarmos o bom momento da economia brasileira que se encontra num cenário muito melhor e mais favorável que o vivenciado no último trimestre de 2009."

CSHG - CSHG DI FI Referenciado: "O comprometimento da União Européia e do FMI com uma série de medidas para garantir recursos à Grécia no curto prazo não foi suficiente para consolidar uma visão de recuperação de solvência do sistema. A propagação da crise de confiança grega a outras regiões, como Portugal e Espanha, traz riscos mais relevantes à economia mundial, dada a conexão desses países ao resto do mundo. O temos desse contágio ajudou a retirar o foco da recuperação dos EUA, que apresenta uma recuperação consistente da economia em 2010 e com perspectiva favorável. Dessa forma, se um cenário de contágio se materializar, reflexos serão sentidos em todos os mercados, inclusive no Brasil, onde se vive hoje a situação oposta: excesso de crédito e crescimento da economia acima do potencial. Em relação ao Brasil, a tendência agora é que a curva de juros aponte para novas altas de 0,75%, embutindo algum prêmio, já que o risco inflacionário não foi contido. Obviamente a situação européia será observada pelo Comitê do Banco Central e o agravamento poderá modificar sua forma de atuação."

CSHG - CSHG Verde FICFIM: "Como já disse inúmeras vezes e continuará sendo o tema central de nossos materiais, o modelo de desenvolvimento brasileiro (que incentiva enormemente o consumo em detrimento do investimento) provoca uma pressão estrutural sobre a inflação. É claro que a convergência se dará um dia, mas acho que este dia é mais distante do que estes mercados apontam atualmente."
"A aversão ao risco da contaminação global da crise européia, manutenção das commodities em patamares estáveis, crescimento acelerado do déficit em conta corrente brasileiro, perda de competitividade industrial e mudança do paradigma de política monetária devem prejudicar a apreciação do real."
"Continuamos achando que se a sustentabilidade fiscal for garantida, o investimento de verdade for retomado e a inflação for controlada, a perspectiva para a recuperação das ações nos próximos anos será excelente."

CSHG - CSHG Strategy II FIA: "De fato, a grande novidade da economia brasileira é a aceleração inconteste da atividade no primeiro trimestre do ano. Neste sentido, os últimos números levaram várias das principais casas de análise do mercado a revisar as projeções de PIB para patamares acima de 7,0% acima de 2010, a maior taxa de crescimento dos últimos 25 anos."
"Nesse momento de maior instabilidade macroeconômica externa, nós acreditamos que a escolha de boas empresas e a manutenção do nosso processo de análise de risco/retorno é de extrema importância para a gestão do portfólio."

SKOPOS: "Alguns eventos são absolutamente previsíveis e mesmo quando acontecem, pegam o mercado de surpresa. A Grécia sempre teve uma política fiscal insustentável, entretanto o mercado de títulos sempre esteve aberto aos gregos. Acreditamos que a Europa era um problema suficientemente grande para trazer ruídos ao Brasil. Por outro lado, fundamentalmente, a China é a maior alavanca dos mercados brasileiros. Assim, como a Grécia, a China vai ser um acidente previsível (especialmente depois que acontecer) mas que vai pegar o mercado de surpresa. Só que neste caso, seremos diretamente afetados."

Claritas: "Projetamos IPCA médio de 0,45% ao mês de junho a dezembro. Somando ao aumulado no primeiro trimestre e às nossas projeções de abril e maio, esperamos IPCA de 6,2% em 2010."
"Consideramos o pacote de ajuda a Grécia, somado aos relaxamentos dos critérios para aceitação de colateral na concessão de resursos da parte do Banco Central Europeu, reduzem sensivelmente a possibilidade de um default soberano no curto prazo. Também fica reduzida a possibilidade de contágio para outros países, bem como os credores gregos ganham mais tempo e oportunidade de ajustarem suas posições ao novo quadro geral."

Guepardo: "Acreditamos que o mercado imobiliário americano ainda é o setor mais atrasado, entendemos que o excesso de oferta criado durante a bolha imobiliária ainda não foi consumido, estima-se que isso deverá ocorrer nos próximos 12 a 24 meses."
"Acreditamos que a cultura grega moderna é tão dependente do governo e tão acostumada ao fato de que sua irresponsabilidade fiscal será salva pelos responsáveis trabalhadores alemães que não restará muita solução, senão um grande remodelamento da cultura grega ou uma eventual saída destes da União Européia."

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A adoção do padrão contábil IFRS

Desde 1976, as empresas de capital aberto elaboram suas demonstrações contábeis baseando-se na Lei das S.A. A partir do início de 2011, devido às mudanças impostas pela globalização e por determinação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), as empresas brasileiras de capital aberto e de grande porte (faturamento bruto anual acima de R$300 milhões ou com ativos acima de R$240 milhões) terão que se adaptar as novas regras contábeis internacionais, implementando seus resultados no padrão IFRS (International Financial Reporting Standards). Dessa forma, o mercado de capitais brasileiro se junta a outros países como Reino Unido, França, Alemanha, Hong Kong, Austrália, além de muitos outros ao movimento de unificação dos padrões contábeis. No Brasil, algumas empresas já adotam esse sistema como Embraer, Natura, Ambev, entre outras.

Como base de valor contábil, o padrão IFRS utiliza o custo histórico, entretanto os ativos intangíveis, o ativo permanente e as propriedades para investimento podem ser reavaliados a valor justo. Atualmente no Brasil utiliza-se o custo histórico, porém itens do ativo imobilizado podem ser reavaliados.

Esse conceito de avaliação de "valor justo" irá impactar no resultado de empresas que possuem ativos biológicos (agrícolas e de pecuária, por exemplo) pois é feita com base no custo de um rebanho ou plantação e deverão ser elaboradas utilizando o conceito de quanto esses ativos realmente valem, ou seja, o valor que esperam obter com sua venda.

Outras mudanças significativas decorrem da "demonstração de outros ganhos e perdas reconhecidos", pois as IFRS requerem uma demonstração em separado dos outros ganhos e perdas reconhecidos em nota explicativa ou de forma destacada na demonstração das mutações do patrimônio líquido, o que não ocorre na apresentação atual; e, das informações por segmento de negócios, onde as empresas de capital aberto devem divulgar informações sobre os segmentos primário e secundário (de negócio e geográficos) com base nos riscos e recompensas e na estrutura interna de apresentação de informações gerenciais nas IFRS. No período atual brasileiro, essas informações não são requeridas.

Também há mudanças relevantes para empresas que operam com contratos de longo prazo, como empreiteiras e concessionárias de serviço público e empresas do setor de varejo que utilizam operações de financiamentos mais longos.

Ou seja, as principais vantagens na emissão de relatórios seguindo o padrão IFRS consistem na melhoria da transparência da contabilidade, o que facilita uma comparação de empresas brasileiras com suas concorrentes no exterior e em uma melhor qualidade de informações aos acionistas valorizando a imagem da empresa devido a melhora na governança corporativa. Por conseguinte, atrai novos investidores e pode também facilitar processos de fusões ou aquisições.

Caso tenha interesse em compreender mais diferenças ou semelhanças entre as mudanças das regras contábeis, segue a seguir o link com um estudo desenvolvido pela PriceWaterHouse Coopers: http://www.pwc.com/pt_BR/br/ifrs-brasil/assets/semelhancas-diferencas-por.pdf

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Bradesco - Valuation



Nesse post, apresento o modelo de valuation do Bradesco que desenvolvi seguindo o livro "Buffettology" de Mary Buffett, e nele demonstro dois cenários: o realista, partindo dos números da empresa apresentados nos últimos 11 anos e assumindo premissas mais conservadoras; e o idealista, partindo do mesmo histórico e dando continuidade à tendência positiva apresentada nos últimos anos. No fim, é nítido que mesmo os cenários sendo distintos, o valor intrinseco do ativo não proporciona um preço muito além do outro cenário.

Objetivo:
O objetivo deste valuation é apenas proporcionar mais um método de análise de empresa e buscar o valor intrínseco de seu ativo para os próximos 5 anos, ano a ano. Afirmo que esta análise não possui qualquer indicação de compra ou venda do ativo. Gostaria de deixar claro que não possuo ações do Bradesco e não tenho interesse em adquirir pelo menos no curto prazo, apesar de ser uma empresa lucrativa e com resultados crescentes ano a ano. Para este blogueiro pessoalmente, na atualidade, opto por ações de outros bancos no setor por possuírem fundamentos melhores que o Bradesco.

Método utilizado:
O método utilizado simplifica muito o valuation de qualquer empresa. Nele, fica claro o uso de apenas dados da empresa coletados dos últimos 11 anos como o lucro líquido, o ROAE, lucro por ação, patrimônio líquido, payout e índice preço/lucro. Sendo assim, o cenário macroeconômico é deixado de lado. Pode haver contestação quanto a esse método, porém o mesmo utilizado não deixa de ser mais uma análise válida de mercado. Para este método, o importante é desenvolvê-lo em busca do lucro por ação anual e com isso definir o valor intrínseco do ativo.

Dados coletados:
Como é possível verificar nas duas tabelas acima, os dados foram retirados das apresentações dos últimos trimestres de cada ano da empresa. Alguns dados podem estar equivocados, pois a empresa modificou sua estrutura acionária por diversas vezes em decorrência de aumento de capital social, agrupamento e bonificação de ações. Nas apresentações da empresa, conforme os períodos se encerram muitos dados também se alteram e acabam ficando confusos para uma coleta maior de dados para análise devido às modificações. Portanto, levo em consideração a maioria dos dados retirados da apresentação do último trimestre de 2009.

Cenário Realista - Conservador:
Neste cenário, foi utilizado uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) de 19,7% ao ano para os próximos 5 anos e um payout de 33% sobre o valor integral do lucro líquido. Para o número de ações, acrescentei 1,8% a mais de ações por ano no mercado provenientes da empresa, pois esse valor é a média de crescimento ocorrida nos últimos 5 anos. Para o valor intrínseco encontrado, foi também definido um P/L médio de 22,5x para a empresa, o que significa aproximadamente 2 pontos abaixo de seu nível histórico. O crescimento do patrimônio líquido fica sendo de 12% para os próximos períodos, sendo utilizado por ser o menor valor encontrado em pelo menos 2 períodos dos últimos 11 anos da empresa. Para o fim de 2010, o valor intrínseco da ação fica em R$46,00.

Cenário Idealista:
Neste cenário o percentual de crescimento de patrimônio líquido aumenta para 20,1% (definido pela média dos últimos 11 anos). O payout utilizado foi definido como 31,5% e a rentabilidade sobre o patrimônio líquido em 20,9%, sendo estabelecido por ser a média dos últimos 11 anos. O valor intrínseco para o fim de 2010 ficou em R$47,32.

Definições:
O payout oficial do Bradesco é calculado de uma forma não convencional e fica estabelecido como o valor recebido pelos acionistas a título de dividendos e/ou juros sobre capital (líquido de IR) dividido pelo lucro líquido contábil ajustado pelas amortizações de ágios extraordinários (descontado a reserva legal (5% do lucro líquido)).

O valor intrínseco fica estabelecido como: o valor da ação ao final do ano somando-se o valor de retenção do payout sob o ROAE. Ou seja, o payout é 33%, portanto o valor de retenção é 67%.

Conclusão:
As perspectivas para o Bradesco são interessantes e bastante favoráveis para os próximos anos devido ao setor ser extremamente lucrativo e a empresa ter uma excelente administração que visa manter o crescimento do ROAE em torno do 20% ao ano. Nos dois cenários apresentados verificou-se uma variação de aproximadamente 3% no valor intrínseco da ação, o que projeta que os cenários, mesmo distintos, não se modificam de uma forma abrupta.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Chegou a hora! Chegou a hora?

Chegou a hora de vender, de manter ou de comprar ações? Desde a máxima do Ibovespa nesse ano, em 9/4, em que atingiu 71.989 pontos, o mercado ja caiu 12,7%.
Apenas na primeira semana de Maio, o Ibovespa desvalorizou-se 6,9%. Nessa mesma semana, o índice da Bolsa norte americana Dow Jones chegou a um recorde negativo em sua história perdendo praticamente 1000 pontos em questão de minutos na tarde de quinta feira (6/5). Porém, o índice se recuperou e fechou perdendo "apenas" 342 pontos. Para se ter uma idéia o que esse número representa, o maior valor em termos de perda na história do DJ em um dia foi de 778 pontos em 29/9/2008. Não se sabe, ainda, ao certo se essa queda de quase 1000 pontos foi erro humano ou algum computador que disparou ordens de venda de forma errada. Ações da Procter & Gamble declinaram de $60 para $40 em segundos, assim como ações da Accenture caíram de $40 para espantosos $0,01. Ainda na semana o índice DJ fechou em queda de 5,7%, o SP500 caiu 6,4%, o alemão DAX -6,9% e a Bolsa de Shanghai -6,4%.

Em uma semana volátil e de perdas como essa, muitos investidores já começam a coçar cabeça pensando se o pior está por vir pelas más notícias vindas da Europa, juntando-se a erros operacionais que assustam e colocam muitos em pânico. Basta verificar que no mesmo momento que o índice DJ declinou fortemente, Bolsas de várias partes do mundo acompanharam o movimento obtendo grandes quedas momentâneas.

Porém, ao mesmo tempo que passa toda essa volatilidade, empresas brasileiras estão divulgando seus resultados do primeiro trimestre de 2010 e os fundamentos de muitas empresas já começam a chamar a atenção pelo lado positivo. No entanto, nesse momento surge na cabeça de qualquer investidor aquela pergunta de um milhão de dólares: comprar agora baseando-se nos bons fundamentos atuais da empresa ou esperar a Bolsa cair mais para iniciar as compras? Será que teremos grandes oportunidades como ocorreram em 2008, quando algumas ações chegaram a níveis históricos de baixo P/L e de altíssimos DY?

Como já divulgado anteriormente por esse blog, um acompanhamento mais próximo dos fundamentos e números das empresas, das rentabilidades das mesmas e de seus respectivos concorrentes no setor faz-se necessário, assim como das commodities no mercado internacional pela dependência de ativos na Bolsa brasileira em relação a cotação das mesmas.

Em contraste com o princípio de pânico, chega o momento de investidores mais experientes que possuem boa diversificação em suas alocações de recursos migrarem parte para ações, devido a estratégias definidas para momentos como esses. Independente da migração de recursos ocorrer em grande escala ou vagarosamente durante uma possível contínua queda da Bolsa, o critério fica exclusivamente do princípio de cada investidor. Outra estratégia adotada por investidores é a troca de posições de um ativo para outro se apropriando do custo de oportunidade do momento sem injetar novos recursos na Bolsa.

O fato é que a queda da Bolsa de 2008 ainda está na memória de muitos devido às grandes perdas. Portanto, o período agora é acompanhar o desfecho da novela européia e avaliar se no futuro próximo ocorrerão mudanças sistemáticas ou não e quais ações ou setores poderão gerar maiores oportunidades de ganhos. Se serão ações defensivas, boas pagadoras de dividendos, agressivas ou empresas de crescimento.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

BDR - Brazilian Depositary Receipts

Atualmente muito se fala sobre BDR's (Brazilian Depositary Receipts) devido as emissões de ativos dos EUA na Bolsa brasileira pelo Deustche Bank e que estão previstas para iniciarem negociações no segundo semestre de 2010. Empresas como Apple, Google, Bank of America, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, Billiton, Wal Mart, Exxon Mobil, McDonald's e Pfizer serão negociadas na Bovespa como BDR's Nível 1 Não Patrocinados, com o objetivo de fornecer novas alternativas de investimento.

Mas o que é realmente, como funciona, quais as modalidades, qual a tributação de um BDR? E é exatamente essas questões que descrevo abaixo neste post.

Definição:
Os BDR's são certificados representativos de valores mobiliários de emissão de companhias abertas com sede no exterior e emitidos por instituição depositária no Brasil. Têm como lastro valores mobiliários emitidos no exterior, que podem ser provenientes do mercado secundário ou de novas ofertas públicas. Além de ser uma alternativa para empresas estrangeiras captarem recursos no mercado brasileiro, a listagem de BDR's possibilita ao investidor brasileiro adquirir valores mobiliários lastreados em ativos estrangeiros.

Modalidades:
duas categorias: Patrocinados (Níveis 1,2,3) e Não Patrocinados Nível 1.
O Patrocinado caracteriza-se por ser instituído por uma única instituição depositária, contratada pela companhia emissora. A companhia também é responsável por publicar informações obrigatórias no mercado brasileiro, por meio de seu representante legal.
O Não Patrocinado é instituído por uma instituição depositária emissora de certificado, sem um acordo com a companhia emissora dos valores mobiliários lastro do certificado de depósito.

BDR Patrocinado Nível 1: pode ser negociado em mercado de balcão organizado ou em bolsa de valores. Apesar da dispensa de registro da companhia na CVM, devem ser divulgadas no Brasil as mesmas informações (fatos relevantes, comunicados ao mercado e demonstrações financeiras) que a emissora está obrigada a divulgar no seu país de origem. São para aquisição exclusiva de instituições financeiras, fundos de investimento, carteira própria de administradores de carteira, de consultores de valores mobiliários e de empregados da empresa patrocinadora ou de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico.

BDR Patrocinado Nível 2: podem ser negociados em bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado e, diferentemente do Nível 1, não há a necessidade do registro de companhia na CVM. A companhia deverá designar representante legal no Brasil e emitir as demonstrações financeiras de acordo com o padrão contábil brasileiro.

BDR Patrocinado Nível 3: possui as mesmas características do Nível 2, porém somente serão registrados quando for simultânea a distribuição de valores mobiliários no Brasil e no exterior.

BDR Não Patrocinado Nível 1: pode ser negociado no mercado de balcão organizado do segmento Bovespa. É um certificado representativo de valores mobiliários de emissão de companhia aberta ou assemelhada, com sede no exterior. Somente poderão ser negociados por instituições financeiras, fundos de investimento e carteira própria de administradores de carteira.

Tributação: Os ganhos auferidos na alienação de BDR's no Brasil são tributados com as mesmas regras aplicáveis à negociação de ações.

Nos últimos anos, oito empresas iniciaram negociações como BDR's na bolsa brasileira e todas na mesma modalidade, Nível 3 : GP Invest (2006), Dufrybras (2006), Wilson Sons (2007), Tarpon - Tig Holding (2007), Patagonia (2007), Cosan Ltd (2007), Agrenco (2007), LAEP (2007).

E, segundo a BMFBovespa, para o lançamento dos primeiros BDR Nível 1 Não Patrocinados, apenas o Deutsche Bank foi autorizado a negociá-los. Para as próximas emissões, a bolsa comunicou que realizará processo de concorrência para a concessão de registro.

Caso tenha interesse em ir mais a fundo no assunto, segue o link da BMFBovespa sobre BDR's: http://www.bmfbovespa.com.br/Pdf/bdr_port_07012002.pdf