terça-feira, 22 de junho de 2010

Entrevista: Arnaldo Waissmann

Como este blogueiro é curioso e gosta de escutar e entender a forma como trabalham outros investidores, e para aproveitar o ensejo, darei prosseguimento a seção Entrevistas deste Blog. Neste post, conversarei com Arnaldo Waissmann. O convidado é conhecedor do mercado nacional e internacional, atua nas áreas de renda fixa e variável. Como trader, opera no mercado de ações utilizando apenas Análise Técnica. Arnaldo Waissmann é Engenheiro Mecânico e Engenheiro da Qualidade, tem dez anos no mercado financeiro e nos últimos oito está no mercado de ações.

Particularmente optei pela entrevista com Arnaldo por ser um trader extremamente organizado em suas operações e por sua experiência de mercado, fatos que tornaram o papo mais interessante e agregador para quem atua neste mercado.

Blog SempreInvestir: Quando e por quê iniciou no mercado de ações utilizando análise técnica?
Arnaldo: "Sempre utilizei gráficos em minha vida, seja para medir/controlar meu patrimônio, coisa que faço desde 1982, seja para controlar peso corporal e etc.
Assim, há cerca de 15 anos comecei a refinar minhas técnicas gráficas, uma vez que minha formação impôs profundos estudos estatísticos.
Por mais simples que meus gráficos (destinados ao mercado de ações) eram no início, percebi que eles começavam a se movimentar antes que uma notícia ou justificativa determinassem este comportamento. Pouco tempo depois aparecia um balanço, uma fusão, uma venda, renegociação,...ou algo que estava definitivamente ligado ao movimento gráfico que percebia com alguma antecedência. No mínimo não precisava ficar esperando o jornal do dia seguinte ou procurando uma notícia na net.
Fiz alguns cursos, mas percebi que com os conhecimentos obtidos em minha formação precisavam e poderiam montar um modelo, foi o que fiz. Apliquei, refinei, apliquei de novo, refinei,...e hoje aplico a metodologia com rigidez."

Blog: O que acredita ser essencial para se ter sucesso na análise técnica?
Arnaldo: "Se você quer atuar na análise técnica, atue na análise técnica, não misture as coisas, não misture com fundamentos, com as famosas dicas do mercado, opiniões diversas, sentimentos,...Costumo dizer que o homem que tem dóis relógios, não sabe que horas são. Outro dia, um trader, meu conhecido, que havia ganho uma certa quantidade de dinheiro, me justificou a operação baseado "em algo que veio do seu estômago, veio de dentro"...bem como o meu estômago não pensa e eu sei bem o que dele sai, prefiro usar meu método e minha cabeça.
O que se pode observar é o cenário como um todo, mas para entender os movimentos, nunca para antecipá-los.
Obviamente, não desprezo outros métodos, mas este é o método que atuo e aconselho a outras pessoas, pois para mim foi o mais "performante". Inclusive, tenho ajudado vários conhecidos, mostrando-lhes onde há bons sinais e aonde há maiores incertezas."

Blog: Em um contexto geral, como vê o cenário atual do Ibovespa?
Arnaldo: "O Ibovespa está numa fase de transição, mas com certeza teremos boas novas neste ano e principalmente nos próximos. Lógico que teremos momentos ruins...que servirão para alavancarmos nossos ganhos, daí mais uma importância da AT, ou seja, identificar estes fundos ou momentos de maior baixa."

Arnaldo, o Blog SempreInvestir lhe agradece pela participação.

Em breve, este Blog espera contribuir com outros convidados e com assuntos diversos neste espaço. E, o interessante deste bate papo acima é notar que, assim como na Entrevista com Didi Aguiar neste mesmo Blog, o perfil, a história, e os objetivos de cada investidor se mostram diferentes, apresentando a "tal" psicologia de massa que movimentam os mercados, o que acaba por tornar a Bolsa de Valores um lugar cada vez mais atraente, pelo menos para este blogueiro.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O mercado de ações no mundo globalizado

O mercado de ações cada vez mais globalizado sugere o acompanhamento de diversos índices mundo afora frequentemente, para não dizer minuto a minuto. Além dos índices costumeiros a acompanhar como o DAX (Alemanha), CAC-40 (França), FTSE 100 (Reino Unido), Dow Jones e SP500 (EUA), SSE (China) e Nikkei 225 (Japão) há outros índices que foram se inserindo nesse mercado devido a importância de cada no contexto do mundo globalizado. Índices constituídos por uma variedade de países, de empresas, commodities, entre outras alternativas de investimento foram lançados no mercado para criar atrativos e diversificação ao investidor. Os famosos ETF's, fundos de índice, são os principais "patrocinadores" que proporcionam em grande parte esse momento.

Dentre os índices de maior importância no cenário internacional atual é possível selecionar alguns como: CRB Commodities Index, MSCI ACWI (All Country World Index) Index Fund, MSCI Frontier Markets Indices, MSCI EAFE (European, Australasian, and Far Eastern markets) Index Fund e EEM - MSCI Emerging Markets Index Fund.
Junto a estes, o acompanhamento da cotação do Ouro e do Brent Crude Oil, individualmente cada, também se tornou uma necessidade no panorama atual.

CRB Commoditie Index: Os componentes do Reuters CRB estão divididos por subgrupos onde a maior participação (23,5%) fica com os chamados Softs (Açucar, Cacau, Café e Suco de Laranja). Posteriormente com 17,6% ficam os subgrupos de Energia (Crude Oil, Heating Oil e Gás Natural), Grãos (Trigo, Milho e Soja), e Metais Preciosos (Ouro, Prata e Platina). Por fim, com participação de 11,8% estão os subgrupos Industriais (Cobre a Algodão) e Carnes (Boi Gordo e Porco).

MSCI ACWI: Como o próprio nome já diz anteriormente, este é um fundo de índice que acompanha empresas de diversos países pelo mundo. EUA (43,5%), Japão (9,0%), Reino Unido (8,2%) e Canadá (4,6%) são os países que possuem maior posição no portfólio. O Brasil se encontra na décima colocação com uma participação de 1,9%. Os setores predominantes neste ETF são: Financeiro (20,8%), Tecnologia da Informação (12,4%), Energia (10,8%0 e Industriais (10,0%).
Em 2009, o ETF apresentou retorno positivo de 34,6%

MSCI Frontier Markets Indices: Um índice que acompanha empresas de 26 países que são considerados de pequeno a médio porte no cenário econômico internacional e portanto possuem uma relevância menor. Estão abaixo dos considerados emergentes e que postulam cargo a serem considerados como tal caso haja melhorias na economia local. Figuram nesta lista países como Argentina, Bulgária, Croácia, Romênia, Ucrânia, Kenya, Nigéria, Tunísia, Líbano, Catar e Vietnam.

MSCI EAFE: Outro fundo de índice considerado de grande relevância no contexto do mercado internacional. Japão (23,2%), Reino Unido (20,8%), França (9,3%) e Austrália (8,3%) são os países que possuem maior participação no portfólio. Os setores predominantes neste ETF são: Financeiro (24,4%), Industriais (12,2%) e Consumo de Alimentos Básicos (10,1%). Em 2009, este fundo de índice apresentou retorno positivo de 31,8%.

MSCI Emerging Markets Index Fund: Este fundo de índice representa os chamados países emergentes. A participação atual de seu portfólio é constituída pelas empresas representadas por seu respectivo país como China (18,8%), Brasil (15,4%), Coréia do Sul (13,0%), Taiwan (10,6%) e África do Sul (8,2%). Curiosamente, apenas atrás desses países é que figuram Índia e Rússia. Os setores Financeiro (24,4%), Energia (14,6%) e Tecnologia da Informação (14,4%) são os que possuem maior participação neste ETF. Desde a criação desse fundo de índice em Julho de 2003, o mesmo apresenta retorno médio anual de 22,5%. Dentre as empresas brasileiras que estão inseridas neste fundo, Petrobras, Vale, Itau-Unibanco, Bradesco e Ambev são as que possuem maior participação.

domingo, 6 de junho de 2010

Análise Fundamentalista X Análise Técnica

Como muitos escrevem sobre o tema, não seria este blog tão diferente dos demais, porém irei acrescentar alguns pensamentos pessoais sobre o assunto que não vejo com certa frequência. Sobre essa visão pessoal, muitos podem achar polêmicas ou equivocadas, mas como disse, são pessoais e as vejo dessa forma. E, para constatação, serei generalista.

A análise técnica sugere ser possível, através dos gráficos, identificar o momento de abrir e fechar posições através do histórico do ativo. Nela, utilizam-se os gráficos em busca de padrões e/ou tendências. O grafista se baseia em diversos indicadores que são estabelecidos por tempos determinados de acordo com o perfil e o interesse do investidor. Médias Móveis, Índice de Força Relativa, Volume, Canais, Fibonacci, Suportes e Resistências são alguns dos indicadores utilizados pelos analistas técnicos. Outro ponto interessante em relação a AT é a capacidade de identificar o comportamento da massa (investidores) para analisar o rumo do ativo, principalmente no curto prazo.

A análise fundamentalista baseia-se em estudos para tentar medir o valor intrínseco do ativo, ou seja, o valor adequado que reflita a situação da empresa no presente e as expectativas futuras utilizando os balanços da empresa através de seu gerenciamento, estudos do cenário econômico nacional e mundial devido à globalização, perspectivas do segmento a que pertence à empresa no mercado, entre outros fatores micro e macroeconômicos. O fundamentalista emprega alguns indicadores como P/L, P/VP, P/EBIT, PSR, ROE, DY,..para fazer suas análises e tomar decisões. O fundamentalista também não sofre tanto com a volatilidade do mercado no dia a dia por ser um investidor de médio/longo prazo.

No mundo dos ativos negociados onde podem ser empregadas estas análises, é factível que como qualquer outro negócio, há vantagens e desvantagens de ambos os lados, sendo cada uma delas utilizadas de acordo com o perfil e o horizonte de cada investidor. Particularmente, no dia a dia, utilizo as duas análises deixando grande parte do capital investido em ativos com bons fundamentos e pequena parte para trades curtos. No meu modo de ver o mercado, a AT é objetiva no curto prazo onde é possível pré-estabelecer objetivos de ganhos e perdas em cada trade (quando se é disciplinado). No longo prazo, AT é praticamente inexistente. Já AF é "aceitável" no curto prazo devido aos indicadores de momento da empresa e teoricamente presumível através de estudos para o longo prazo. Aceitável no curto prazo, pois pode haver lucros não recorrentes que acabam por inflar e esconder o resultado real da empresa no período.

A maioria dos fundamentalistas não se dá ao trabalho de estudar e entender AT e por isso debocham e criticam os grafistas e seus prognósticos. É possível que isso aconteça devido ao desconhecimento, ou a falta de interesse, ou a falta de humildade, ou pela simples falta da necessidade de conhecer sobre o assunto, ou a todos somados juntos. Por outro lado, chama a atenção a incapacidade ou a falta de interesse, ou a falta da necessidade do grafista em conhecer o setor, os produtos/serviços e os indicadores fundamentalistas da empresa que negocia.

Por ser dinâmico, negociar ativos utilizando AT muitas vezes se torna atraente, principalmente quando há êxito na negociação. Pelo lado negativo, a perda de capital em uma negociação leva muitos traders de mercado a uma certa depressão momentânea e posterior reflexão. De fato, o psicológico é afetado a cada resultado final, o que torna o investidor-especulador ainda mais instigado. Por ter uma visão de médio/longo prazo, o fundamentalista dorme tranquilo esperando novas oportunidades. Já o grafista adormece com um olho fechado e o outro aberto nos mercados futuros no resto do mundo.

Com a análise técnica, é possível se proteger de um mercado de baixa utilizando "stops" ou até lucrar ao posicionar-se vendido (alugar ativos) em ativos que estão com prognósticos baixistas. Na análise fundamentalista, o investidor se protege de um mercado de baixa através da alocação de recursos e aproveita a queda para adquirir maior participação em ativos de renda variável.

Outro ponto importante nesse comparativo é o tempo disponível para estar junto ao mercado. O grafista necessita estar diante de suas análises constantemente para poder captar as oportunidades do momento. Já o fundamentalista tem a necessidade de analisar balanços e indicadores antes e pós resultados e suas mudanças, economia nacional e mundial,..., com certa tranquilidade e muita dedicação aos estudos buscando novas oportunidades visando horizontes mais longos.

Portanto, ao que tudo indica, o perfil e o horizonte são as palavras-chave que determinam qual caminho/estratégia o investidor deverá seguir e isso depende apenas de si próprio e sua sabedoria em utilizá-los. As críticas vindas da outra escola sempre serão por motivos variados ou apenas pelo fruto do desconhecimento. Entretanto, no final, todos estão nesse mercado pelo mesmo motivo: lucro.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O impacto da variação cambial no resultado das empresas

Bolsa em baixa, Dólar em alta ou Bolsa em alta e Dólar em baixa. Na maioria dos pregões há uma percepção grande quanto a correlação do sentido contrário em que caminham. O fluxo dos investidores estrangeiros interfere, em sua maior parte, para que isso ocorra. Neste post, irei analisar algumas empresas e seus respectivos endividamentos em moeda estrangeira e como isso interfere diretamente nos resultados trimestrais.

Desde o encerramento do mês de Março até o dia 2 de Junho, o Dólar obteve uma pequena alta de 0,85%. Já o Índice Bovespa desvalorizou-se 10,6%. O que corroborou para a obtenção desses valores foi a saída de R$1.2 bilhões em Abril dos investidores estrangeiros. Porém, em Maio, estes mesmos investidores injetaram mais R$1.5 bilhões na Bolsa brasileira, o que mostra que mesmo sendo valores significativos, influenciam no resultado do índice, entretanto não sendo fator único. A média mensal de participação destes investidores nos últimos meses fica em torno dos 30% do volume total da Bolsa.

Sendo assim, a desvalorização da moeda brasileira frente ao Dólar também corrobora no impacto dos resultados das empresas brasileiras a cada trimestre devido as dívidas das empresas, principalmente as de curto prazo, estarem em partes atrelada a moedas e taxas de juros internacionais. Há também outros motivos relacionados às moedas internacionais impactarem nos resultados das empresas como a utilização de Hedge e Derivativos estarem indexadas a moeda norte americana.

Como anunciado no release do primeiro trimestre de 2010 da Gerdau, a empresa possuía 9% de sua dívida bruta sendo de curto prazo. Esta dívida possuía 41% em moedas estrangeiras e empresas no exterior. A dívida total da empresa estava composta por 21% em Reais, 36% em moeda estrangeira contratada por empresas no Brasil e 43% em diferentes moedas contratadas pelas subsidiárias no exterior. Em relação ao caixa da empresa, este possuía 37% do total, em 31 de Março, sendo dólares norte americano. No trimestre, o desempenho do resultado financeiro foi negativo de R$247 milhões, devido principalmente a desvalorização de 2,3% do Real frente ao Dólar no período. Portanto, por essa indicação, é possível supor que caso a moeda norte americana continue a valorizar-se até o fechamento do mês de Junho, a empresa irá ter um resultado financeiro negativo.

A TAM divulgou seu release de resultados do 1t10 afirmando que obteve uma despesa líquida de R$26,1 devido a variação de R$1,74 para R$1,78 a cada Dólar no período. Em relação ao endividamento, a empresa anunciou que 84% do endividamento total está denominado em moeda estrangeira. Sobre a dívida total, 19% é considerada de curto prazo. Desse valor, apenas 24% está atrelada ao Real. Isto nos remete a ter certa precaução em relação ao resultado financeiro da empresa caso o Dólar continue a se valorizar frente ao Real.

A Fibria obteve um resultado financeiro líquido negativo de R$341 milhões. Apenas relacionada a variação cambial a perda ficou em R$209 milhões no período (1t10), devido a valorização de 2% do Dólar frente ao Real. Em relação a dívida bruta no período, 62% está indexada em moeda estrangeira. Devido ao grande percentual da dívida total da empresa estar atrelada ao Dólar norte americano, a empresa utiliza-se de derivativos. Porém, mesmo utilizando operações de Hedge para esta posição a empresa obteve uma perda de R$13 milhões no período.